sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Como fotografar suas obras.

Excelente artigo escrito por Evandro Hiram. Publicado no site http://galeriagrazini.blogspot.com.br/2011/01/como-fotografar-suas-obras.html




Nessa vida atribulada de artista contemporâneo, onde desempenhamos papel de marchand, secretário, boy, arroz de festa (além de outras coisas mais, antes de sermos artistas e trabalharmos em cima de nossa obra), uma das principais tarefas é a de registrar com qualidade a própria obra.

Não adianta nada você desenvolver um puta trabalho plástico e não ter nenhum registro decente do que você fez. Afinal, as pessoas terão acesso ao seu trabalho principalmente através de fotografias, seja em portfólio, na internet, em livro, ou onde quer que seja. Pense bem, você já viu mais obras diretamente, ao vivo, ou indiretamente, em livros e afins?


Já vi gente mandando obras pra galeria com um adendo no arquivo:  "P.S.: A cadeira que está em frente à tela não faz parte da obra". Cadeira na frente? O que o galerista vai pensar quando ver isso? Ou o júri do salão? Ninguém vai querer estabelecer parceira alguma com um “profissional" assim.

Sendo assim, quero dar algumas dicas para que você possa registrar seu trabalho com qualidade profissional, tendo desta maneira mais chance de ser aceito em editais, salões e galerias, para daí sim, o público ver as suas obras em "carne e osso".

Primeira dica: Contrate um fotógrafo profissional que tire fotos de obras. Ele vai saber o que fazer, e você não esquenta a cabeça. 

Tá duro? Não tem saco de levar as obras no fotógrafo de tempos em tempos conforme você for produzindo para ter tudo registrado? Ok, então vamos para a dica número 2: Faça você mesmo (muito melhor). Você poderá tirar quantas fotos você quiser, quando quiser, manipula-las do jeito que quiser, enfim, mil vantagens, e compensa financeiramente a médio prazo. Outra: não vou fazer listinha nem nada, e sim, meumodus operandi de fazer, de cabo a rabo.

Primeiramente, vamos falar sobre o equipamento.




Esquece essa coisa de máquina reflex monobjetiva analógica. Estamos na era digital. Invista em uma máquina digital semi-profissional de qualidade que já está bom. Não vou falar de marca nenhuma porque não estou ganhando jabá de ninguém, mas esqueçe as câmeras de bolso, tem que ser aquelas que trocam a lente, sabe? Que simulam as famosas monobjetivas. Se quiser ser artista de verdade, em algum momento você vai ter que pôr a mão no bolso. Marca conhecida, lente de qualidade e um número de megapixels considerável. 

O tripé é essencial. Os mais baratos obviamente não são muito bons. Tente investir em algo com um pouco mais de qualidade que não vai desmantelar sozinho em um mês. Pra não correr risco de tremer mesmo, um disparador é muito útil. Se não tiver, o timer automático quebra um galho.


Lente. De preferência uma com distância focal entre 85-105mm. A lente deve estar um pouco longe do trabalho a ser fotografado, evitando distorções. Esse tipo de lente permite isso, dando um bom foco e registrando detalhes com fidelidade. 




A solução mais barata para iluminação são os refletores tipo parabólicos com lâmpadas photoflood. O nome parece complicado, mas o material é simples e relativamente barato. Tenho certeza que você já viu esse material por aí. Um refletor de 30cm de diâmetro deve dar conta do recado. Esse tipo de lâmpada esquenta bastante, mas é o melhor que se pode conseguir a baixo custo para ter um bom resultado. Existem lâmpadas mais modernas que substituem a photoflood, como as de tungstênio e as halógenas. Aí entra uma pesquisa de preço e de bolso.





Um fotômetro também ajuda bastante. Você vai medir a luz que se incide sobre a sua tela e não a luz que reflete dela. Desta maneira, fica muito mais fácil de regular sua câmera. Lembrando que, obviamente, vamos fotografar dentro de um espaço fechado, sem ajuda de luz natural, ou de qualquer outra iluminação a não ser a indicada aqui, ok? Ah, desiste de tirar fotos de trabalhos em moldura de vidro. Dá um trabalhão e demoraria muito pra explicar aqui como fazer.




Bom, pra fechar a lista de materiais, você vai precisar de um lugar pra apoiar seu trabalho bidimensional, para que este fique angulado perfeitamente em 90°. Cavaletes de qualidade permitem isso, mas na falta deles, use a parede. E use uma espécie de cartão preto atrás do trabalho, para que as cores do fundo não influenciem na edição. Esta, aliás, que você vai fazer naquele Photoshop pirata que você baixou na net. Em caso de dúvida de Photoshop, envie um reply para este post, porque este artigo não abrange essa parte. A preocupação é tirar uma boa foto, pra depender o mínimo possível de qualquer ferramenta de edição de imagem.

Arrumada toda essa parafernália, vamos ao que você vai fazer com ela.

As duas coisas mais importantes ao tirar a foto: o posicionamento da câmera e a exposição da foto.





Posicione sua obra no cavalete em 90°. Após isso posicione cada lâmpada a 45° do trabalho, uma em cada lado, formando um triângulo. E as lâmpadas no tripé devem estar na mesma altura da obra, e com uma distância de 1,5m a 1,8m, de acordo com o tamanho da mesma.

Agora vamos posicionar a câmera. A distância é muito relativa ao tamanho da obra mas a ideia é preencher o visor de sua câmera com o trabalho. Caso você não esteja usando a lente que eu sugeri, coloque a câmera um pouco mais longe e use o zoom. O importante é que a lente esteja na altura do centro do trabalho a fim de evitar paralax (distorção de perspectiva), e perpendicular ao mesmo. Deixe o tripé da câmera bem ajustadinho e firme. Pra conferir, verifique no visor da câmera se as bordas do trabalho estão paralelas às bordas do visor da câmera, tanto nas alturas quanto nas laterais.


Exemplo de efeito paralax que deve ser evitado.


Com toda a tranqueira ajustada, você está pronto pra fotografar. Meça a luz que incide na obra com seu fotômetro. Faça isso nos quatro cantos e onde mais quiser, para verificar se todo o trabalho está recebendo a mesma quantidade de luz. Se não estiver, reposicione suas lâmpadas para que isso aconteça. 


As máquinas digitais permitem que se especifique o tipo de luz sob o qual se está fotografando. Não se esqueça de ajustar a máquina para "Tungstênio".

Regule o f-stop para f/11, que deve dar conta do recado sob as condições aqui apresentadas, e use o fotômetro para regular o obturador de acordo com o ISO (ou ASA, se o freguês assim preferir) escolhido e a abertura (aqui no caso, f/11). Lembre-se quanto menor a ASA, menos ruído e mais definição de detalhes terá a sua imagem. Use a menor disponível na sua câmera. Na falta do fotômetro, use o bom senso, ou o modo automático. Fazer o que...

Agora é só focar e tirar a foto. Não se esqueça de usar o timer ou o disparador (cabo ou remoto) pra câmera não se mover nenhum milímetro e voilá.

Para maior segurança, tire algumas fotos adicionais com aberturas diferentes (a maravilha da era digital é que quantidade de foto já não tem mais custo de impressão - acho que a nova geração já nem sabe do que eu estou falando). Use f/8, f/8/11, f/11/16 e f/16, apenas por segurança. Depois é só escolher a melhor.





É prudente também tirar algumas fotos de um pantone (aquela tabelinha de cores) com as mesmas especificações usadas pra tirar a foto do trabalho. Fica mais fácil de ajustar as cores assim que as imagens estejam no seu computador (claro que  o monitor deve estar bem calibrado também...). E faça anotações de tudo, muita informação sempre confunde a cabeça da gente.

Dicas: Ao tirar fotos de mais de uma imagem, agrupe-as por tamanho para evitar o máximo possível o excesso de movimentação da câmera.

Bom, outra solução mais barata é o improviso. Pegue a melhor câmera que você conseguir, use um banquinho como tripé, e umas luzes brancas para fazer a iluminação. Respeite o posicionamento das luzes como indicado acima, mantenha a câmera longe e use o zoom para tirar o efeito macro da lente, reze um pouquinho e mande bala.

Acho que é isso. Quem sabe no futuro, eu não escrevo um post de como editar essa foto apropriadamente no Photoshop?

Boa sorte a todos.


Obra "Carlos", de Clarissa Campello, usada como exemplo nas imagens.
http://galeriagrazini.blogspot.com.br/2011/01/como-fotografar-suas-obras.html

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